Eu me torno muito dependente de tudo que me faz bem. Isso
faz com que qualquer coisa que me faça bem esteja predestinada a me fazer mal
logo em seguida. E eu não sei lidar com isso.
E foi no momento que eu percebi isso, que eu entendi que deveria começar a esquecer algumas coisas.
Nunca fui uma pessoa fácil de lidar. Teimosa e persistente,
raramente conseguem me convencer que minha verdade está equivocada; mesmo que
esteja, meus argumentos são sempre muito bons. Nos relacionamentos, isso toma uma
proporção maior.
Sou muito intensa e muito verdadeira com todo e qualquer sentimento
meu, seja bom ou ruim. O problema está em querer reciprocidade e todos sabemos
que lidar com seres humanos através da perspectiva da liberdade não funciona
assim. Cada um tem seu tempo, cada um sente de uma forma. E eu sou demasiada
intensa. Quando sinto, sinto muito, sinto demais, sinto exageradamente.
Não consigo sentir só um pouco, muito menos me esforço para
conter meus sentimentos. O que também me torna muito impulsiva. E são todas
essas peculiaridades que me fizeram estar aqui hoje registrando algumas
memórias, algumas até não vividas, entretanto alguém pode se identificar e é para
estes que eu escrevo.
Estou próxima à idade em que se pode morrer e ser lembrado.
Não que eu seja alguém, ninguém me conhece, contudo grande parte dos ídolos da
minha geração se foram nessa idade. E não vou negar que já passou pela minha
cabeça incontáveis vezes o desejo de homenageá-los, estudo minuciosamente – à princípio,
aleatoriamente, sem planos – a forma que cada um se foi e de quem gosto mais para
poder ser mais fiel. E é quando me pego fazendo pesquisas nessa linha que eu
percebo que, mesmo que eu saiba que muita gente se importa comigo, mesmo que
tenha muita gente por perto, eu estou sozinha. E eu vou sempre viver esses
sentimentos todos sozinha – mesmo que eu compartilhe. E eu vou sempre estar sozinha. Só
eu vivi as coisas a partir do meu ponto de vista, só eu sei o que eu senti e o
que eu sinto com cada ação e cada reação de tudo ao meu redor. Só eu sei quantas
vezes coisas que eu toquei viraram pedra. Principalmente nos meus
relacionamentos. Eu poderia facilmente ganhar o posto de Deus da Destruição, se
eu fosse um personagem de Dragon Ball.
Eu causo um efeito bola de neve de desgraças com atos
simples, que desencadeiam uma avalanche e eu vou só destruindo tudo o que foi
bom, toda a fauna e flora que adornavam o romance que eu destruo. E é disso
tudo que eu preciso me livrar, de todas essas memórias, de toda essa culpa e de
todo esse sentimento que me corrói.
Já cansei de ouvir que as pessoas não estão preparadas para
sentirem e para viverem na mesma intensidade que eu sinto e vivo as coisas. O
que as pessoas não entendem é que eu não estou preparada também, mas eu não consigo
fazer as coisas pela metade. Eu só sei ser sincera e ser clara e ser por inteira.
Eu não consigo me privar conscientemente de algumas coisas, mesmo com medo, eu
arrisco.
Eu vivo como se estivesse em um filme ou uma série daqueles
cheios de clichês, eu amo clichês, eu sou clichê e eu queria um romance clichê.
No entanto, as pessoas da minha geração foram educadas a fugir dos sentimentos.
Que tudo isso só faz mal; agora tenho propriedade para afirmar que estavam certos,
mas por vários períodos eu esqueço das dores que causam e me sinto a pessoa
mais feliz habitando a troposfera. Nesses momentos, pode ser que haja alguém tão
feliz quanto eu, mas mais feliz não há. E é por esses momentos que eu vivo, literalmente.
Até o dia em que eu aprender a esquecer a dor, esquecer sentimentos, esquecer a culpa, esquecer tudo. Até o dia do oblívio.
Até o dia em que eu aprender a esquecer a dor, esquecer sentimentos, esquecer a culpa, esquecer tudo. Até o dia do oblívio.
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